Playlist #61 – Francisco Pinheiro Posted in: Playlist

Um deserto numa piscina: Califórnia consiste num pequeno conto e numa série de GIFs que mostram frações das icónicas fotografias de Hugh Holland e Glen E. Friedman, a par de imagens de satélite do antigo Lago Owens, hoje um deserto de sal.

Este trabalho encontra paralelismos e pontos coincidentes em três momentos aparentemente díspares da história da Califórnia: a era dourada da cultura de skate de L.A., que ficou conhecida pela utilização de piscinas vazias como rampas de skate, consequência de uma das maiores secas deste estado (1976-77); as Guerras da Água da Califórnia (finais do século XIX e princípios do século XX) que resultaram na seca do grande Lago Owens, considerado hoje o pior problema de poluição por poeira nos Estados Unidos; e a Expedição Portolà (1760-70), que foi a primeira entrada europeia registada no que é hoje a Califórnia.

Este trabalho foi foi apresentado pela primeira vez em 2018 na Wrong Wrong Magazine.

Um deserto numa piscina: Califórnia

As bagas eram de um azul profundo e de uma forma esférica quase perfeita. Após o seu sinal, os seus homens logo se apressaram a saltar sobre os arbustos, devorando esse estranho fruto como se não houvesse amanhã. Contemplando esta verdadeira orgia, Portolà sorria perante a sua sorte divina. O seu contentamento mostrava-nos porém a causa de tanto desespero. Dentes escuros, repletos de escorbuto, meses de mar a fio sem pôr pé em terra firme. Para muitos destes homens, aqueles que sobreviveram desta tripulação, o norte já tinha ficado lá para trás. A única coordenada que os tinha levado até ali, tinha sido a obstinação do seu capitão, Gaspar de Portolà, bem como os desenhos de Miquel Constançó, o cartógrafo catalão responsável por mapear aquela expedição. Portolà debruçado sobre a areia, desenhava círculos com o seu dedo indicador. À medida que desenhava um novo círculo na areia, reparava sobretudo no círculo que desaparecia por trás, esbatendo-se nos ínfimos grãos de areia. Repetia este gesto vezes sem conta. Parava de vez em quando para fitar o interior da floresta, procurando seguir os seus homens que subiam clareira acima. Neste tempo de espera e de algum inquietamento – pois sabia que os índios da tribo Quiroste andavam por aí – elaborava diferentes possibilidades de entrada em terra. Nestas elaborações de raciocínio militar, tranquilizava-lhe o calor da areia e os finos grãos que lhe escapavam entre as suas mãos. Até que um grito ecoou entre aquelas árvores gigantes, e estérico Constançó gritava aigua dolça! aigua dolça! ajoelhando-se na areia, mostrando o seu mapa aos céus, como que agradecendo aquilo que adivinhara. Portolà por seu lado sussurrava tranquilamente para si cañada de la salud, enquanto calçava novamente as suas botas.

 

Entre aquelas enormes árvores de casca avermelhada, os homens banhavam-se nos vários ribeiros, comendo aquelas bagas estranhamente esféricas e azuis. Celebravam com elas, pois tinham sido estas as bagas que os tinham conduzido até àquele ribeiro de água doce, recuperando desta forma o ânimo do seu corpo. Depois de saciada a sua sede, Portolà saboreava o interior carnudo e doce daquelas bagas. Apreciava o ligeiro amargo da sua cobertura fina, que lhe fazia sentir ligeiros picos na sua língua, ao mesmo tempo que olhava hipnotizado para a sua cor.

 

O mesmo azul, a mesma forma esférica, foi o que levou William Mulholland a fotografar essas mesmas bagas, no então designado Big Basin State Park. William fotografava “com a sua portátil e fácil de usar” Brownie, sendo que o interesse de William ficava-se pela forma e não tanto pelo potencial comestível destas bagas. Não conseguido identificá-las, preferiu não as comer, com receio de sofrer de algum tipo de envenenamento. Sendo o superintendente do Departamento das Águas de Los Angeles, ou o el zanjero del oeste, como alguns dos seus guias mexicanos o chamavam, William não poderia deixar de ser convidado para a inauguração oficial do primeiro parque estadual da Califórnia. Assim que disparou o obturador, voltou ao trilho e ao grupo com quem caminhava. Entre as small talks habituais dos seus colegas, as elaborações mentais de William estavam mais para os lados da Sierra Nevada, em Owens Valley. Sentia-se angustiado. O discurso que dera dias antes perante os camponeses deste vale, tinha-lhe deixado um aperto estranho no peito. Sabia que aquilo que tinha acabado de prometer, não iria na realidade acontecer. A verdade é que com aquela nova directiva federal, as planícies verdes de Owens Valley iriam desaparecer numa questão de anos, e com elas a fragrância da Artemisia tridentata e o seu pontilhado de flores amarelas. O lago tornar-se-ia certamente numa superfície árida, e à volta do vale seria impossível de se plantar alguma coisa. Após este fluxo de considerações tão certeiras e claras na sua consciência, volta à sua frase de sempre e sussurra para si próprio: Los Angeles precisa de água, será para um bem maior, para um futuro melhor de todos os angelenos.

 

O índio olha entre as grandes árvores de casca vermelha, e contempla o seu inimigo com algum desdém. O índio observa, o índio aprende. O índio aprende com o seu inimigo. Então colhe uma dessas bagas, aquelas que fizeram parte da sua infância e adoçaram desde sempre toda a sua juventude. Segurando-as ao nível dos seus olhos e examinando-as de forma tímida e meio desajeitada com um monóculo, pela primeira vez repara que as bagas eram de um azul profundo e de uma forma esférica quase perfeita. Após o seu sinal, os seus homens logo se apressaram a saltar sobre os arbustos, devorando esse estranho fruto como se não houvesse amanhã. Contemplando este verdadeiro banquete, Portolà sorria perante a sorte do seu destino. O seu contentamento mostrava-nos porém a causa de tanto desespero. Dentes escuros, repletos de escorbuto, meses de mar a fio sem pôr pé em terra firme. Para muitos destes homens, os poucos que sobreviveram da tripulação, o norte já tinha ficado lá para sul. A única coordenada que os tinha levado até ali, tinha sido o carisma do seu capitão, Gaspar de Portolà, bem como os esboços de Miquel Constançó, o cartógrafo catalão incumbido de mapear aquela expedição. Portolà caminhava descalço sobre a areia. Parava de vez em quando para fitar o interior da floresta, procurando seguir os seus homens que subiam clareira acima. Neste tempo de espera e de algum inquietamento – pois sabia que Charquin andava por perto – elaborava diferentes possibilidades de entrada em terra. Nestas elaborações de raciocínio militar, dava-lhe alguma tesão sentir os finos grãos de areia entre os mais ínfimos espaços dos seus pés, livres por agora do cabedal firme das suas botas. Até que um grito ecoou entre aquelas árvores gigantes, e logo estérico Constançó gritava aigua dolça! aigua dolça! gesticulando e mostrando o seu mapa aos céus. Portolà por seu lado, sussurrava Santa María de la Soledad, desenhando um triângulo na areia.

 

Entre aquelas majestosas coníferas de casca avermelhada, os homens banhavam-se nos vários ribeiros, comendo aquelas bagas estranhamente esféricas e azuis. Celebravam com elas, pois tinham sido estas as bagas que os tinham conduzido até aquela bela cascata de água, saciando a sua sede, animando o seu espírito. Portolà saboreava o seu interior doce e carnudo. Dava-lhe imenso prazer sentir o romper da película fina destas bagas. O seu esguicho libertava um suave amargo que lhe fazia sentir ligeiros picos na sua língua.

 

A mesma cobertura fina, o seu gradiente uniforme, foi o que levou William Mulholland a fotografar essas mesmas bagas, no então designado Big Basin State Park. William fotografava “com a sua portátil e fácil de usar” Brownie, porém o interesse de William ficava-se pela estética e não tanto pelo seu conhecimento. Desconhecendo estas bagas, preferiu não arriscar em prová-las, com receio de algum tipo de indisposição. Sendo o superintendente do Departamento das Águas de Los Angeles, ou o el zanjero del oeste, como alguns dos seus trabalhadores mexicanos o chamavam, William não poderia deixar de ser convidado para a inauguração oficial do primeiro parque estadual da Califórnia. Assim que disparou o obturador, voltou ao trilho e ao grupo com quem caminhava. Entre conversas de negócios, as elaborações mentais de William estavam mais para os lados da Sierra Nevada, em Owens Valley. Um vale conhecido pelo seu majestoso lago, rodeado por luxuriantes prados a perder de vista. William dera dias antes, um discurso perante os agricultores de Owens Valley, que o deixou com um aperto no peito. Sabia que aquilo que tinha acabado de prometer, não iria na realidade acontecer. Sentia-se angustiado. A verdade é que com aquela nova directiva federal, as planícies verdes de Owens Valley iriam desaparecer numa questão de anos e com elas a fragrância da Artemisia tridentata. Após este fluxo de considerações tão claras na sua cabeça, volta à sua frase de sempre e sussurra para si próprio: Los Angeles precisa de água, será para um bem maior, o progresso está aí, não se pode parar.

 

O índio olha entre as grandes árvores de casca vermelha e com as devidas precauções salta a vedação. À medida que olha em volta, entra discretamente no jardim de um dos apartamentos de Mulholland Drive. Ninguém parece estar em casa, é dia de semana. Para seu espanto, o índio encontra uma piscina enorme sem água. No seu fundo, repara que pelas fissuras, crescem uns arbustos com umas bagas de um azul profundo e uma forma esférica quase perfeita. Após o seu sinal, os seus homens logo se apressaram a saltar sobre os arbustos, devorando esse estranho fruto como se não houvesse amanhã. Contemplando esta verdadeira orgia, Portolà sorria perante a sua sorte divina. O seu contentamento mostrava-nos porém a causa de tanto desespero. Dentes escuros, repletos de escorbuto, meses de mar a fio sem pôr pé em terra firme. Para muitos destes homens, aqueles que sobreviveram da tripulação, o Norte já tinha ficado lá para trás. A única coordenada que os tinha levado até ali, tinha sido a obstinação do seu capitão, Gaspar de Portolà, bem como a capacidade de persuasão de Miquel Constançó, o cartógrafo catalão responsável por mapear aquela expedição. Portolà caminhava sobre a areia quente, arrastando atrás de si uma ramagem seca. Parava de vez em quando para fitar o interior da floresta, procurando seguir os seus homens que subiam clareira acima. Neste tempo de espera e de algum inquietamento – pois sabia que os temíveis Ohlone andavam por aí – elaborava diferentes possibilidades de entrada em terra. Entre estas elaborações de raciocínio militar, dava-lhe algum conforto ouvir o som suave da ramagem em contacto com a areia, que atrás de si ia desenhando diferentes linhas. Até que um grito ecoou entre aquelas árvores gigantes, e estérico Constançó gritava aigua dolça! aigua dolça! deitando-se na areia, esperneando-se e mostrando o seu mapa aos céus. Ostia puta dizia para si próprio Portolà, atirando a ramagem para o mar.

Entre aqueles enormes pinheiros de casca avermelhada, os homens banhavam-se nos vários ribeiros, devorando aquelas bagas estranhamente esféricas. Celebravam com elas, pois tinham sido estas as bagas que os tinham conduzido até à linha de água, salvando-os da fome e da sede. Portolà saboreava o seu interior carnudo e doce. Apreciava sobretudo o seu sabor final amargo, que lhe fazia adormecer ligeiramente a língua. Foi esse mesmo toque amargo, que fez William Mulholland recordar-se dos seus longos dias de infância passados nas encostas de Big Sur, onde apanhava diferentes frutos silvestres com os seus pais. Ao provar estas bagas de um azul profundo quase negro, William sentiu um formigueiro no seu peito que rapidamente lhe invadiu todo o corpo. Foi nesse momento, que teve a clarividência que alguém que lhe era intimamente estranho, dizia-lhe repetidamente: Los Angeles precisa de água, o progresso está aí, não se pode parar.

O índio olha entre as grandes árvores de casca vermelha e contempla o seu inimigo com curiosidade. Pegando novamente no seu skate, desta vez arrisca um “Rock ‘n’ Roll Boardslide”, deslizando sobre a lateral da piscina seca. Dizem que a piscina não é dele, dizem que a casa não é sua, mas ali sente-se parte de algo maior. Sentado na relva, o índio repara que junto à vedação crescem aquelas bagas que fizeram parte da sua infância e adoçaram desde sempre toda a sua juventude. Pela primeira vez repara que as bagas eram de um azul profundo e de uma forma esférica quase perfeita.

Biografia

Francisco Pinheiro (Lisboa, 1981) é artista visual e a sua prática parte de narrativas colectivas associadas a um determinado território, ativadas em instalações, vídeos, textos, caminhadas e performances. Tem participado em diferentes eventos como o Lisboa Soa ou os Territórios Nómadas, e apresentado o seu trabalho em espaços como o Instituto, Osso, Penha sco, Oficinas do Convento, Museu do Neo-Realismo, Instituto Camões, Appleton ou a Galeria 111. Tem criado e contribuído para diferentes publicações, com destaque para KAMAL (Sistema Solar, 2018). Faz parte do coletivo Guarda Rios, a partir do qual tem desenvolvido um trabalho de investigação e criação em torno dos rios. É mestre em Novos Géneros pela San Francisco Art Institute (EUA, 2014) como bolseiro Fulbright / Fundação Carmona e Costa e é licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2005).

EN

A desert in a pool: California consists of a short story and a series of GIFs showing fractions of the iconic photographs by Hugh Holland and Glen E. Friedman, alongside satellite images of the former Owens Lake, now a salt desert.

consists of a short story and a series of GIFs showing fractions of the iconic photographs by Hugh Holland and Glen E. Friedman, alongside satellite images of the former Owens Lake, now a salt desert.

This work finds parallelisms and coincident points on three seemingly disparate moments in California’s history: the golden age of L.A. skate culture, known for skating in emptied swimming pools, a consequence of one of the greatest droughts in the state (1976-77); the California Water Wars (late 19th century and early 20th century) that resulted in the Owens Lake drought, considered today the worst dust pollution problem in the United States; and the Portolà Expedition (1760-70), which was the first recorded European entry in what is today California.

First featured in Wrong Wrong Magazine (2018)

A desert in a pool: California

The berries were deep blue and were almost a perfect sphere. On his signal, his men hurriedly leapt over the bushes, and devoured this strange fruit as if there was no tomorrow. Contemplating this true orgy, Portolà smiled at his good fortune. His contentment showed us the cause of such despair. Dark teeth depleted by scurvy, months on end at sea without setting foot on land. For many of these men, those in the crew who survived, north had been lost long ago. The only coordinate that had brought them there was their captain’s stubbornness, Gaspar de Portolà, as well as the drawings of Miquel Constançó, the Catalan cartographer responsible for mapping the expedition. Bent over the sand, Portolà drew circles with his index finger. As he drew a new circle in the sand, he enjoyed looking at the circle that was disappearing behind it, fading into the tiny grains of sand. He repeated this gesture countless times. He paused occasionally to stare into the forest, intending to follow his men up the glade above. During this time of waiting and some uneasiness – knowing that the Indians from the Quiroste tribe were around – he devised different ways of entering the land. Through these elaborations of military reasoning, the warmth of the sand and the fine grains that escaped from his hands, helped to calm him down. Until a shout echoed through the giant trees, and a hysterical Constançó shouted aigua dolça! aigua dolça! he knelt in the sand, holding his map up to the heavens, as if he was thanking what he had foreseen. In a more quiet manner, Portolà whispered to himself cañada de la salud while he was putting on his boots again.

Amidst those huge trees with reddish barks, the men bathed in the various streams, eating those strangely spherical and blue berries. They celebrated with them, for these were the berries that had brought them to that creek with fresh water, this way regaining the energy in their body. After quenching his thirst, Portolà savored the juicy, sweet pulp of the berries. He appreciated the slight bitterness of their thin skin, which made him feel tiny tingles on his tongue, while he looked at the berries, hypnotized by their color.

The same blue, the same spherical shape, led William Mulholland to photograph those very berries, in the then designated Big Basin State Park. William took photographs “with his portable and easy-to-use” Brownie, since William’s interests lay in the shape of these berries and not so much on their edible properties. Unable to identify these berries, he preferred not to eat them, for fear of suffering some kind of poisoning. Being the superintendent of the Los Angeles Water Department, or el zanjero del oeste as some of his Mexican guides called him, William was one of the distinguished guests at the official opening of California’s first state park. As soon as he pressed the shutter, he returned to the trail and the group with whom he was walking. Surrounded by the usual small talk of his colleagues, William’s mental elaborations were more to the eastern sides of the Sierra Nevada, in Owens Valley. He felt anguished. The speech he had given days before to the farmers of this valley had left a tight feeling in his chest. He knew that what he had promised them would not really happen. The truth is that with that new federal directive, the green plains of Owens Valley would disappear in a matter of years, and with them the fragrance of Artemisia tridentata and their spotted yellow flowers. The lake would surely become an arid surface, and it would be impossible to plant anything around the valley. Following this flow of considerations so tangible and clear in his mind, he returned to his usual phrase and whispered to himself: Los Angeles needs water, it will be for a greater good, for a better future of all the Angelenos.

The Indian looks through the great red trees, and gazes at his enemy with some disdain. The Indian observes, the Indian learns. The Indian learns from his enemy. He then picks one of those berries, those that were part of his childhood and have sweetened all his youth. He holds them at eye level and examines them in a timid and awkward way with a monocle, for the first time he notices that the berries were deep blue and spherical in shape, almost perfect. On his signal, his men hurried and leapt over the bushes, devouring this strange fruit as if there were no tomorrow. Contemplating this feast, Portolà smiled at the fate of his destiny. But his contentment showed us the cause of so much despair. Dark teeth depleted by scurvy, months on end at sea without setting foot on land. For many of these men, the few in the crew who had survived, north had already been left behind, long past south. The only coordinate that had brought them there was the charisma of their captain, Gaspar de Portolà, as well as the sketches of Miquel Constançó, the Catalan cartographer commissioned to map the expedition. Portolà walked barefoot on the sand. He paused occasionally to stare into the forest, seeking to follow his men up the glade above. During this time of waiting and some uneasiness – since he knew that Charquin was near – he elaborated different possibilities of entering the land. During these elaborations of military reasoning, it made him hard to feel the fine grains of sand between the tiniest spaces of his feet, that for now were free from the firm leather of his boots. Until a shout echoed among those giant trees, and hysterical Constançó yelled aigua dolça! aigua dolça! gesticulating and showing his map to the heavens. In contrast, Portolà whispered Santa Maria de la Soledad, drawing a triangle in the sand.

 

Amidst the majestic conifers of reddish bark, the men bathed in the various streams, eating those strangely spherical blue berries. They celebrated with them, for these had been the berries that had led them to that beautiful waterfall, quenching their thirst, lifting up their spirits. Portolà savored their sweet and fleshy pulp. It gave him great pleasure to feel the breaking of their thin skin. Their squirt gave off a soft bitterness that made him feel slight tingles on his tongue.

The same thin skin and uniform gradient, was what led William Mulholland to photograph those same berries, in the then-called Big Basin State Park. William was photographing “with his portable and easy-to-use” Brownie, but William’s interests lay in aesthetics rather than in any sort of categorization. Unfamiliar with these berries, he chose not to try them, fearing some kind of ailment. Being the superintendent of the Los Angeles Water Department, or el zanjero del oeste as some of his Mexican workers called him, William could not fail to go to the official inauguration of California’s first state park. As soon as he pressed the shutter, he returned to the trail and the group with whom he was hiking. Amid work conversations, William’s mental elaborations were more to the eastern side of the Sierra Nevada, in Owens Valley. A valley known for its majestic lake, surrounded by lush meadows as far as the eye could see. Days before, William had given a speech before the farmers of Owens Valley, that made his chest feel tight. He knew that what he had just promised would not really happen. He felt anguished. The truth is that with that new federal directive, the green plains of Owens Valley would disappear in a matter of years and with them the fragrance of Artemisia tridentata. After this flow of considerations that were so clear in his head, he returned to his usual phrase and whispered to himself: Los Angeles needs water, it will be for a greater good, for the sake of progress, it cannot be stopped.

The Indian looks through the large red bark trees and with necessary caution he jumps the fence. As he looks around, he enters discreetly into a private garden of one of Mulholland Drive’s apartments. Nobody seems to be home, it is a weekday. To his surprise, the Indian finds a big empty pool. At the bottom, he notices a series of fissures from which a few shrubs with berries grow. They were deep blue and had a spherical shape, almost perfect. On his signal, his men hurried and leapt over the bushes, devouring this strange fruit as if there was no tomorrow. Contemplating this true orgy, Portolà smiled at his good fortune. His contentment however showed the cause of so much despair. Dark teeth depleted by scurvy, months on end at sea without setting foot on land. For many of these men, those from the crew who survived, north had already been left behind. The only coordinate that had brought them there was the obstinacy of their captain, Gaspar de Portolà, as well as the persuasiveness of Miquel Constançó, the Catalan cartographer responsible for mapping that expedition. Portolà walked on the hot sand, dragging a dried branch behind him. He paused occasionally to stare into the forest, seeking to follow his men up the glade above. During this time of waiting and some uneasiness – for he knew that the dreadful Ohlone were out there – he worked out different possibilities of entering the land. Among these elaborations of military reasoning, it gave him some peace to hear the smooth sound of the branch in contact with the sand, leaving behind a trace of different lines. Until a shout echoed among those giant trees, and hysterical Constançó yelled aigua dolça! aigua dolça! jumping down onto the sand, gesticulating and showing his map to the heavens. Ostia puta… Portolà whispered to himself, throwing the branch into the sea.

Amidst the huge pines of reddish bark, the men bathed in the various streams, devouring those strangely spherical berries. They celebrated with them, for these were the berries that had led them to that stream, sparing them from hunger and thirst. Portolà savored their juicy, sweet pulp. He particularly appreciated their bitter taste at the end, which made his tongue slightly numb. It was this same bitter tinge that made William Mulholland remember long childhood days spent on the slopes of Big Sur, where he picked different berries with his parents. As he tasted these berries of a deep blue, almost black color, William felt a tingling in his chest that swiftly invaded his body. It was at that moment that he had the clairvoyance of a somewhat familiar stranger that kept telling him: Los Angeles needs water, for the sake of progress, it cannot be stopped.

The Indian looks through the large red bark trees and gazes at his enemy with curiosity. Picking up his skateboard again, this time he ventures on a Rock ‘n’ Roll Boardslide diving into the empty pool. They say the pool is not his, they say the house is not his, but here he feels part of something bigger. Sitting on the grass, the Indian notices the berries that have been part of his childhood and have always sweetened his youth are growing next to the fence. For the first time he notices that the berries were deep blue and had an almost perfect spherical shape.

Biography

Francisco Pinheiro (Lisbon, 1981) is a visual artist and his practice stems from narratives associated with a particular territory, activated in installations, videos, texts, walks and performances. He has participated in different events such as Lisboa Soa and Territórios Nómadas, and presented his work in spaces such as the Instituto, Osso, Penha sco, Oficinas do Convento, Museu do Neo-Realismo, Instituto Camões, Appleton and Galeria 111. He has created and contributed to different publications, namely KAMAL (Sistema Solar, 2018). He is part of the collective Guarda Rios, from which he has developed art work and research around rivers. He holds a Master in New Genres from the San Francisco Art Institute (USA, 2014) as a Fulbright/Carmona e Costa Foundation grantee and a degree in Painting from the Faculty of Fine Arts, University of Lisbon (2005).

Translation: Gloria Dominguez

 

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