Playlist 53 – André Covas e Carmo Azeredo (ACCA) Posted in: Playlist
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Vídeo, 5.30’, 2021
Ensaio visual sobre o conceito de “praças públicas” digitais, composto a partir de imagens manipuladas de diferentes praças da cidade de Madrid, pertencente a uma série de trabalhos em diferentes formatos sobre as atuais formas de exclusão e divisão digitais.
Atualmente, o problema da exclusão digital é principalmente notório na desigualdade entre aqueles que podem e aqueles que não podem efetivamente aceder à esfera online (uma realidade que, com demasiada frequência, coincide com as comunidades mais desfavorecidas e ostracizadas da sociedade). Mas esta lacuna representa ainda a divisão social que a expansão digital está a gerar, e o papel fundamental que esta tem na crescente polarização da opinião pública.
Um papel atravessado por práticas e fenómenos problemáticos, que vão desde a disseminação viral de desinformação; o estreitamento da perceção da realidade através de filtros-bolha e câmaras de eco; a manipulação de vieses cognitivos para prender utilizadores num “scroll infinito”; a exploração de preconceitos inflamatórios para lucro publicitário; à propagação de culturas de intimidação, bullying e violência de género virtual. Seja por meio destes (ou outros) efeitos desenfreados, a esfera digital apresenta hoje vários problemas que contribuem para a intensificação de divisões culturais, sociais e ideológicas na nossa sociedade.
Especialmente problemática é a base lucrativa das principais “praças públicas” digitais — as plataformas onde a maioria da população converge para comunicar, partilhar, pesquisar e consumir informação. Essas plataformas, aparentemente “livres”, constituem hoje uma parte vital e poderosa da sociedade, essencial para a forma como nos expressamos, interagimos e participamos na esfera pública.
Contudo, na sua base, estas permanecem máquinas privadas orientadas para exploração lucrativa de toda e qualquer interação humana, incluindo formas de agitação civil. Por muito positiva que a conectividade que estas plataformas permitem possa ser, estas “praças virtuais” são hoje demasiado significativas e relevantes para a esfera pública, para se manterem nas mãos de meia dúzia de empresas com interesses instituídos em conservar a presente ordem social.
Se a função do espaço público físico se reivindica como um terreno crucial para a ação cívica e coletiva e para a integridade democrática, devemos também considerar que, enquanto as ruas e praças pertencem, primeiramente, às pessoas, os seus equivalentes digitais não. A fim de construir uma sociedade verdadeiramente igualitária, devemos exigir que nossas praças públicas digitais sejam também elas verdadeiramente livres e democráticas, devidamente reconhecidas e protegidas por lei como parte essencial de nosso espaço público.
BIO
ACCA é um duo artístico multidisciplinar português, atualmente sediado em Madrid, formado por André Covas (designer e músico, natural de Braga) e Carmo Azeredo (artista plástica e produtora, natural do Porto). Através da complementaridade das suas bases profissionais, juntos exploram o cruzamento entre arte, música, design, tecnologia e pensamento crítico, produzindo ensaios visuais sobre algumas das inquietações e curiosidades que partilham sobre a atualidade.
As reflexões artísticas que têm vindo a produzir, desde finais de 2017, dialogam com temas como a democracia digital, os vieses cognitivos, a era da pós-verdade, o conflito entre o desejo de liberdade e a necessidade de controle, o antropoceno e a construção contemporânea de natureza, entre outros. A sua prática artística desenvolve-se de forma variada, privilegiando o uso do som, texto, imagem, novos médios, design, produção escultórica e o formato de instalação.
Colaboram e fazem parte do coletivo Campanice e da associação cultural Saco Azul, ambos no Porto, e recentemente abriram em Madrid um pequeno estúdio/espaço independente de arte e design, com o nome ACCAstudio.
EN
mov_1_the_new_digital_divides.mp4
Vídeo, 5.30’, 2021
2020
Visual essay on the concept of digital “public squares”, composed from manipulated images of different squares in the city of Madrid. Part of a series of works in different formats on the current forms of digital exclusion and division.
Currently, the problem of digital exclusion is mainly evident in the inequality between those who can and those who cannot effectively access the online sphere (a reality that, too often, coincides with the most disadvantaged and ostracized communities in society). But this gap still represents the social divide that the digital expansion is generating, and the fundamental role that it has in the growing polarization of public opinion.
A role crossed by problematic practices and phenomena, ranging from the viral dissemination of misinformation; the narrowing of the perception of reality through bubble filters and echo chambers; the manipulation of cognitive biases to trap users in an “infinite scroll”; the exploitation of inflammatory prejudices for advertising profit; the spread of cultures of intimidation, bullying and virtual gender violence. Whether through these (or other) unbridled effects, the digital sphere today presents several problems that contribute to the intensification of cultural, social and ideological divisions in our society.
Especially problematic is the profit base of the main digital “public squares” – the platforms where the majority of the population converges to communicate, share, search and consume information. These platforms, apparently “free”, today constitute a vital and powerful part of society, essential for the way we express ourselves, interact and participate in the public sphere.
However, at their base, these remain private machines geared towards profitable exploitation of any and all human interactions, including forms of civil unrest. As positive as the connectivity that these platforms allow may be, these “virtual squares” are today too significant and relevant to the public sphere, to remain in the hands of half a dozen companies with vested interests in preserving the present social order.
If the function of the physical public space is claimed as a crucial terrain for civic and collective action and for democratic integrity, we must also consider that, while the streets and squares belong primarily to people, their digital equivalents do not. In order to build a truly egalitarian society, we must demand that our digital public squares are also truly free and democratic, properly recognized and protected by law as an essential part of our public space.
BIO
ACCA is a Portuguese multidisciplinary artistic duo, currently based in Madrid, formed by André Covas (designer and musician, born in Braga) and Carmo Azeredo (artist and producer, born in Porto). Through the complementarity of their professional bases, together they explore the intersection between art, music, design, technology and critical thinking, producing visual essays on some of the concerns and curiosities they share about the present.
The artistic reflections that have been producing, since the end of 2017, dialogue with themes such as digital democracy, cognitive biases, the era of post-truth, the conflict between the desire for freedom and the need for control, the anthropocene and the contemporary construction of nature, among others. Their artistic practice develops in a varied way, privileging the use of sound, text, image, new media, design, sculptural production and the installation format.
They collaborate and are part of the collective Campanice and the cultural association Saco Azul, both in Porto, and recently opened in Madrid a small independent studio / space of art and design, named ACCAstudio.